O Frevo no Trio Elétrico
O frevo no trio elétrico
Leonardo Dantas Silva
Após o desfile do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas do Recife, naqueles
dias que antecederam ao Carnaval de 1951, nas ruas de Salvador, o trio
elétrico, que teria surgido de forma embrionária no ano anterior, ganhou uma
nova energia com a inclusão do frevo pernambucano em seu repertório.
Dodô e Osmar, que haviam montado um serviço de amplificação num velho Ford
29, saíram às ruas de Salvador executando o repertório de frevos do Clube
Vassourinhas do Recife. Inicialmente só dois instrumentos, a guitarra baiana
e o violão elétrico, passando no ano seguinte para três com a inclusão do
violão tenor, o triolim, surgindo assim o trio elétrico que veio a se tornar
uma verdadeira revolução no carnaval brasileiro. Ou como melhor explicou
Morais Moreira, no carnaval de 1980, (Trio Elétrico, disco WEA BR 82001-B)
nas estrofes do seu Vassourinha Elétrica:
Varre, varre, varre Vassourinhas / Varreu um dia as ruas da Bahia/ Frevo,
chuva de frevo e sombrinhas / Metais, em brasa, brasa, brasa que ardia /
Varre, varre,varre Vassourinhas / Varreu um dia as ruas da Bahia / Abriu
alas e caminhos pra depois passar / O trio de Armandinho, Dodô e Osmar... /
E o frevo que é pernambucano, ui, ui, ui, ui / Sofreu ao chegar na Bahia,
ai, ai, ai, ai / Um toque, um sotaque baiano, ui, ui, ui, ui / Pintou uma
nova energia, ai, ai, ai, ai / Desde o tempo da velha fubica, ha, ha, ha, há
/ Parado é que ninguém mais fica / É o frevo, é o trio, é o povo / É o povo,
é o frevo, é o trio / Sempre juntos fazendo o mais novo / Carnaval do
Brasil.
O que contaríamos em algumas páginas, é resumido nessas estrofes de
Vassourinha Elétrica, composto por Morais Moreira para o carnaval de 1980,
Trio Elétrico, disco WEA, BR 82001-B. A partir de 1952 o trio de Dodô
(Adolfo Nascimento) e Osmar (Osmar Macedo), passou a sair num caminhão
iluminado de lâmpadas florescentes, dois geradores, oito alto falantes, sob
o patrocínio da fábrica de refrigerantes Fratelli Vita, de propriedade do
industrial pernambucano Miguel Vita. A presença de Armandinho só vem
acontecer no final do ano de 1974.
No rastro da novidade de Dodô e Osmar foram surgindo, no carnaval da
Bahia, outros trios - Tapajós, Marajós, Tabajaras... -, com as suas
formações já modificadas pela inclusão de mais uma guitarra, um contrabaixo
elétrico, quatro surdos, quatro bombos menores, quatro caixas, pratos,
bateria e, nos dias atuais, os "indispensáveis" teclados. A partir de então,
como diria Caetano Veloso, .... atrás do trio elétrico, só não vai quem já
morreu...
O contrato com a Fratelli Vita terminou em 1957 e, dois anos depois, o
Trio Elétrico de Dodô e Osmar foi contratado pela Coca-Cola para o carnaval
do Recife, coincidindo, assim, com o "Carnaval da Vitória" de Cid Sampaio,
que havia tomado posse no governo de Pernambuco em 31 de janeiro de 1959. O
sucesso da época era um frevo-de-bloco de Nelson Ferreira, que utilizou o
refrão da campanha, então na boca de toda gente - "o povo é que diz Cid" -,
e logo se tornou o preferido do repertório dos baianos:
O Bloco da Vitória está na rua / desde que o dia raiou... / Venha, minha
gente, prô nosso cordão, / que a hora da virada chegou! / Quando o povo diz
Cid / cair na frevança não há quem dê jeito... / Agüenta o rojão, ficar sem
comer / mas no fim, hei! / Tá tudo okei! / Neste carnaval / qua! qua! qua!
qua! / o prazer é gargalhar... / E com bate-bate de maracujá / a nossa
vitória / vamos festejar.
E é por isso que muita gente ainda hoje jura ter presenciado o nascimento
do Trio Elétrico nas ruas do Recife, chegando até a afirmar como o poeta
Gonçalves Dias:
Meninos, eu vi!.....