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Várias Leituras de Tom Jobim
Caixa de CDs mostra gravações obscuras de músicas do maestro, incluindo artistas como Stelinha Egg, Mara & Cota e Osny Silva
Quem idealiza a bossa nova com um movimento uníssono de rigor estético afinado no mesmo diapasão de modernidade precisa ouvir a recém lançada caixa de três CDs Tom Jobim - Raros compassos (Revivendo). O pesquisador Leon Barg, dono do selo, preferiu garimpar gravações raras, obscuras e muitas até esdrúxulas da obra do maestro falecido em 1994. Há desde uma caricata dupla caipira Mara & Cota, para quem o conceito "desafinado" soaria elogioso, que assassina Eu sei que eu vou te amar e Eu não existo sem você, ao empostado Vicente Celestino (antítese do coloquialismo da bossa) engomando Se todos fossem iguais a você. Você sabia que a atriz Vanja Orico, celebrizada no filme O cangaceiro foi a primeira a gravar Eu não existo sem você (há várias versões de uma mesma música na caixa) e Sucedeu assim, ambas com o próprio Tom no acompanhamento? E que a irmã do compositor, a escritora Helena Jobim, foi parceira do mano em Não devo sonhar, gravado em ritmo de bolero por Angela Maria? Essas e outras preciosidades - 14 registros de composições com uma única gravação entre as 76 faixas - tornam Raros compassos item obrigatório para estudiosos - e voyeurs.
A maior parte dos artistas arrebanhados no pacote é de gente que era de outras praias musicais - ou simplesmente não entendeu o espírito da coisa. O intimismo da bossa , com suas letras de lirismo contido e carícias no diminutivo sofre com tremolos, vibratos e dós de peito de diversos calibres como os de José Orlando (Chega de saudade), Carlos Augusto (A felicidade, Sem você, Canção da eterna despedida), Delora Bueno (Corcovado), Albertinho Fortuna (Eu sei que vou te amar), Maria Helena Raposo (Se todos fossem iguais a você) e Osny Silva (ambos inflaram o delicado Foi a noite). Mais espantosa ainda é uma versão de Só danço samba em clima de dobrado , na garganta da folk Stelinha Egg. A caixa não pega apenas a face da bossa nova de Tom. Há muitas gravações do período anterior, em que o compositor ainda tateava inovações no idioma corrente do samba-canção. Casos do obscuro Frase perdida (parceria com Marino Pinto), engessado por Ernani Filho (intérprete favorito de Ary Barroso) ou a soluçante Sonia Dutra de É preciso dizer adeus (parceria com Vinícius).
Também não faltam rascunhos do autor como o nacionalista Samba não é brinquedo (parceria com Luis Bonfá), gravado pela sambista Dora Lopes em 1956. A letra tem essa pérola: "Se Noel ainda estivesse aqui/acabava logo com a versão". Na inesperada seara do protesto, Tom presenteou Cauby Peixoto com o samba Oficina em 1980. "Pois o meu patrão não vai querer compreender/com esse salário ninguém pode mais viver", reclama a letra que citava Delfim Netto, o czar econômico do momento. Há ainda temas instrumentais não retomados como Coffee deligth e Moonlight Daiquiri, ambos gravados pelo maestro Léo Perachi em 1958, o curioso Domingo sincopado (parceria com Bonfá, em 1956) na ginga de Edu da Gaita e até o choro Flor do mato pelo grupo Galo Preto, em 1981.
Voltando à bossa, o movimento chegou a ser tão influente que houve quem deixasse a Jovem Guarda e adjacências roqueiras para praticá-la, como o cantor Wilson Miranda numa linha pós-Simonal em Só tinha de ser com você e Inútil paisagem. Cantoras de menor expressão como Vera Lúcia, Luely Figueiró, Norma Suely, Diana Montez também arriscaram-se sem pára-quedas nas sutilezas harmônicas jobinianas. Mas nem tudo é exótico na compilação. Precursor da modernidade, o veterano Mário Reis espalha-se em dois sambas à sua feição (Isso eu não faço não e O grande amor). Elza Soares dá show em Só danço samba (com scats de entortar) e em Acho que sim (parceria esquecida com Billy Blanco). Agostinho dos Santos (Sucedeu assim), Ana Lúcia (Esquecendo você), Claudette Soares (Vivo Sonhando), Isaura Garcia (Meditação, incluindo um banho percussivo do órgão lounge de Walter Wanderley), Severino Araújo (A felicidade), Sylvia Telles (Mágoa, outra obscura) e Marlene (Brigas nunca mais) sintonizam com a bossa de Tom, a que Dick Farney (Perdido nos teus olhos, Amor sem adeus), empresta a adequada voz de mormaço on the rocks. Quem sabe, samba. E viva a dissonância!
(Tárik de Souza)
Jornal do Brasil. Caderno B. Terça-feira 16/05/2000. Pág. 04
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