|
Crônica de Sorocaba - Moar! Última Fase de Ataulfo Alves Ganha Reedição Assis Valente Revive Coletânea Festeja Centenário de Nascimento de Assis Valente, Autor de Brasil Pandeiro´ Por Mauro Ferreira Revivendo o Passado Luiz Gonzaga, o Eterno Rei do Baião Cem Anos de Braguinha Rendem Homenagens no Rio e em Sp Coletânea Traz Raridades de Carmen Para o Cd Raridades de Carmen Miranda, Braguinha: 100 Anos de Alegria Dicionário Gonzagueando, de a a Z Por Assis Angelo (livro)
Reportagens |
|
|
Crônica de Sorocaba - Moar!
Crônica de Sorocaba - Moar!
Paulo Tortello
"São João está dormindo,
não acorda, não!"
QUANDO eu era pequenino, "de pés no chão", como canta aquela marcha junina de quando eu era pequenino... quando eu era pequenino, achava que, como na música do Chico, "no tempo da maldade, a gente nem tinha nascido".
E brincava, inocente, de mocinho e bandido:
- Moar! - que gritava, apontando um revólver de pau a meu amiguinho mais próximo, que, obediente às regras do jogo, erguia as mãos, rendido.
"Moar" era nossa maneira de ordenar ao "bandido" que levasse as mãos ao ar. Na época, disso eu não sabia e imaginava que a expressão fosse inglesa e própria dos "mocinhos", como eu via nos filmes de faroeste no cinema, e, por isso, caprichava no erre torto para emprestar, à expressão, um colorido "western":
- Moar!
A segunda Grande Guerra era, imagine-se, chamada de "última". Eu entendia "última" como "derradeira", mas os mais velhos queriam era dizer "mais recente", como logo vi, depois. Governantes despóticos, que escorchavam seu povo com impostos, eram, pra minha cabecinha de vento, lendas muito e muito antigas, diziam de um tempo vetusto, quem sabe apenas inventado pelos adultos para nos mostrar o quanto o mundo de agora era bom. De qualquer forma, fosse como fosse, fosse o que fosse, o que era mesmo era que tudo o de mau era de antes, de muito antes de mim, e, portanto, de tudo, de antes do mundo, ou seja, de antes de nós que aqui estamos, que, ao contrário dos que por nós dizem que esperam nos ermos dos campos santos, somos o que importa, isso é o que é, ah, o antes de nossos mins, um velho mundo velho de que nos ríamos, todos e cada um, uma, aliviados e felizes por não viver num tempo assim daqueles como os que se haviam ido embora - e há quanto tempo! - para sempre e sempre e para nunca e nunca mais.
O Danúbio, bailavam-no azul, ninguém lhe falava em bombardear as pontes. Bagdá, ninguém não a explodia em mísseis, era tão-somente (se fosse pouco!) a cidade encantada das histórias de maravilhas das Mil e Uma Noites. A China era um país de mistérios fascinantes, ninguém não me falava de canhões em suas praças. A Europa era linda e podia-se ir para lá sem correr o risco de ter o visto de entrada negado. Os Estados Unidos eram uma nação apenas interessante, lá em cima, ninguém pensava em chegar lá a nado ou balsas. E o Brasil - ah! o Brasil! - era o país do futuro.
As coisas andam mudadas. Tomo sentido do noticiário mundial, nacional, local - e horrorizo-me. Cada vez compreendo mais profundamente a expressão do Cristo quando gemeu:
- Meu reino não é deste mundo!
Nem o meu.
Nem, creio, o de ninguém.
Meu coração será maior que o mundo? Ou será esse mundo bem maior que os nossos corações?
Não sei.
Neste momento, as notícias nas folhas de jornais assolam-me e assombram-me. Nada mais desumano que um humano e outro humano.
Talvez, penso, esse desaprendizado tenha já advindo daqueles "Moar!" com que nos ameaçávamos tão inofensivos. Talvez não.
Talvez o ser humano seja mesmo assim e, nossas mãos, se as não mantivermos ao ar, talvez as fechemos no pescoço de outro de nós, esse, de fato, com as mãos ao alto.
Talvez seja o caso de cerrarmos as mãos em oração.
Talvez, apenas, o caso de nos darmos as mãos.
E, só aí, erguemo-las no ar.
Melhor do que soltar rojões.
Mesmo num dia como hoje.
Mesmo neste dia de São João.
Um poema
Olhar
Olhar-te é ver as ondas
Longas
Que pervagam
Vagas
Sobre o mar
A amar
Amar-te é ser as longas
Ondas
Vagas
Que persegues
Sagas
Sobre amar
O mar
Cultuo-te como quem mira o mar
E amar-te é descansar os olhos
E amo-te como quem ama olhar
O mar que tens a cultuar
Paulo Tortello
Paulo Tortello é Poeta. E-mail: tortello@terra.com.br
|
|
Revivendo Musicas - 35 anos preservando a Musica Popular Brasileira
página inicial | fale conosco | ajuda | cadastro | política de privacidade e segurança |
© Copyright 1987-2022 Revivendo Músicas Ltda. - Todos os Direitos Reservados As logos Revivendo® e Again® são marcas registradas da Revivendo Músicas Ltda. A manutenção, a distribuição e a comercialização dos produtos encontrados neste site é feito por Barg Comércio de Discos e Acessórios Musicais Ltda. Os preços dos produtos podem sofrer alteração sem aviso prévio.
|
|