REVIVENDO É PRECISO 
 
A gravadora de Curitiba Revivendo vem traçando uma meta importantíssima para nossa cultura! Através dela se imortaliza boa parte do legado musical brasileiro. Leon Barg vem com muita bravura e bom gosto revivendo Cds antológicos. De Orlando Silva, Carmen Miranda, Noel Rosa, Ary Barroso, Sinhô a Carnaval de Lamartine Babo, Valsas brasileiras, No tempo da seresta, Tom Jobim...  
 
Do bandolinista Déo Rian, em Gotas de ouro, são registrados dois Lps da década de 70, agora em um só CD. E o rei do baião Luiz Gonzaga aparece com o CD Sanfona dourada.  
 
Déo Rian, carioca de Jacarepaguá, nasceu no dia 26 de fevereiro de 1944, dentro de uma família estritamente musical. Seu pai cantava, o irmão de seu avô tocava cavaquinho e os tios de sua mãe, no começo do século XX, tocavam bandolim e formavam em casa rodas de choro. Aos cinco anos começou a praticar cavaquinho. Aos 18 anos tocou profissionalmente seu bandolim na Rádio Mauá, entrando logo após para o regional de Darli do Pandeiro. Seu vizinho nada mais era que o gênio Jacob do Bandolim, que logo se tornou um grande amigo. Após o falecimento do mestre Jacob, Déo foi requisitado na gravadora RCA e no grupo de Jacob, Época de Ouro. Em 77 forma seu próprio grupo, Noites Cariocas. Em sua extensa carreira, Déo fez shows pelo Brasil e internacionais, entre eles no Japão, gravou entre outros, um CD ao lado do gênio Raphael Rabello e o CD independente Choro em família ao lado de seu filho Bruno Rian, também exímio bandolinista. Os marcantes LPs Ernesto Nazareth e Saudades de um bandolim fazem parte deste CD, onde o talento de Déo vem com o magnífico Quinteto Villa-Lobos, na época do saudoso fagote de Airton Barbosa, e o Quarteto da Escola de Música da UFRJ, além de Dino Sete Cordas, Jorginho do Pandeiro, entre outros, acompanhando em arranjos valorosos! Um verdadeiro passeio pelo choro! 23 músicas para se deliciar com as cordas duplas de Déo Rian, um dos maiores nomes do bandolim brasileiro.  
 
A sanfona de Gonzagão é Brasil puro, raiz, agora mais do que nunca imortalizado por esta bela reunião de 21 músicas! Depois de passar o chapéu, tocando sua inseparável sanfona, Gonzagão deu o pontapé inicial no programa de rádio do polêmico Ary Barroso, onde com sua música Vira e mexe, ganha a nota máxima e um prêmio de quinze mil réis. A partir daí começam as gravações e as parcerias mais famosas com Humberto Teixeira e Zé Dantas. Um fato curioso foi o boato de que os Beatles iriam gravar seu sucesso Asa-branca, uma invenção da figura de Carlos Imperial, acabando com o monopólio do rock dos anos 60, dando vez a novamente na época ao Rei do Baião. Este CD é o início de sua carreira onde se destaca a parte instrumental com a bela valsa Saudades de São João Del Rei de Turquinho, Segura a polca, de Xavier Pinheiro, e de próprio punho os choros Sabido e Caxangá, o trem junino Apitando na curva e a valsa Sanfona dourada, título deste CD que traz as mãos e o cheiro deste genial ícone da música brasileira!  
 
Como todos os discos da Revivendo, estas são pérolas também registradas para sempre.  
 
Com esta proposta imortal, Revivendo traz ainda no encarte do CD de Déo a célebre frase de Confúcio, aqui tendo o sentido transformado no louco paradoxo brasileiro:  
 
"Se alguém deseja saber se um reino é bem ou mal governado, se sua moral é boa ou má, examine a qualidade de sua música, que lhe fornecerá a resposta."  
 
Marcos Souza 
Revista Música Brasileira. Instrumental. Agosto/2000. 19 p. Ano IV. N.º 28.