Versões inusitadas são um dos atrativos de Raros Compassos, coleçãodo selo curitibano Revivendo. 
 
UM COMPOSITOR EM DIVERSOS TONS 
Compilação traz gravações raras de obras de Tom Jobim 
(Omar Godoy) 
 
O SELO CURITIBANO REVIVENDO ACABA de colocar no mercado uma verdadeira pérola. Raros Compassos é uma caixa de três volumes que compila versões raras ou pouco conhecidas para composições de Tom Jobim (1927-94). A iniciativa de Leon Barg, proprietário da gravadora independente, não pode ser considerada apenas um presente para os fãs do artista. O trio de CDs é um verdadeiro documento musical, uma amostra de tremenda influência de Jobim sobre seus contemporâneos. 
 
Bossa nova é o que menos se escuta na maioria das 76 faixas de Raros Compassos. As gravações contidas no lançamento triplo da Revivendo trazem arranjos nos mais variados gêneros: sambas, boleros, marchas, fox-trots e boleros. Entre os intérpretes, grandes nomes se revezam com figuras desconhecidas das novas gerações. "Um jornalista do Rio de Janeiro disse que Vera Lúcia e Osni Silva são figuras obscuras. Isso é um absurdo, porque ela foi uma das rainhas do rádio, enquanto o Silva chegou a ser barítono em óperas na Itália", contesta Leon Barg.  
 
Muitas das gravações são mínimo inusitadas, como a versão de "Eu Não Existo Sem Você" feita pela dupla caipira Mara e Cota. "Isso prova o grande sucesso que Tom Jobim fazia. É um retrato de uma época na qual só dava ele nas rodas musicais", afirma Barg. Contudo, Raros Compassos ainda ultrapassa os limites da curiosidade e do resgate histórico para se configurar como fonte de uma audição deliciosa. Vide faixas como "Maria da Graça"(Roberto Paiva), "Só Tinha Que ser Com Você"(Wilson Miranda), "Chega de Saudade"(Trio Nagô) e "Acho Que Sim"(Elza Soares), só para citar algumas. 
 
De acordo com Barg, o principal papel da caixa de três volumes é a preservação do repertório de Jobim, não interessando a qualidade das versões. "Algumas gravações, são ridículas, péssimas. Minhas filhas, que trabalham comigo, até perguntavam se eu teria coragem de incluir algumas músicas", conta. 
 
TRABALHO UNE PESQUISA E TECNOLOGIA 
Recuperação de tesouros sonoros é fruto de uma intensa dedicação 
(Omar Godoy) 
 
A HISTÓRIA DA CAIXA RAROS COMPASSOS começou com um lançamento anterior da Revivendo dedicado a Jobim, a coletânea Meus Primeiros Passos e Compassos, de 1997. Percebendo a importância do material que tinha nas mãos, Leon Barg decidiu ir mais fundo em seu trabalho de resgate. Pesquisou gravações raras de músicas do compositor carioca em todos os formatos fonográficos, e fez descobertas curiosas. "Fiquei sabendo que o grupo Galo Preto, um dos intérpretes de `Flor do Mato`, ainda existe e faz apresentações no Rio de Janeiro", surpreende-se. 
 
De acordo com colecionador e estudioso da MPB, a compilação dedicada a Jobim poderia ter um número ainda maior de faixas, contendo até registros de artistas estrangeiros. Mas o custo final do projeto acabaria muito alto para o produtor e os consumidores. Barg conta que Raros Compassos teve a cooperação das editoras detentoras dos direitos autorais das canções, além do incentivo de Paulo Jobim, filho do compositor. As faixas bônus da caixa, extraídas da trilha sonora do filme Porto das Caixas (de Paulo César Saraceni), foram incluídas no terceiro CD graças à ajuda de uma cinemateca de São Paulo. "O tape das músicas sumiu, tivemos que retirá-las da própria fita", lembra o dono da Revivendo. 
 
Todo o processo de recuperação sonora realizado por Leon Barg é fruto de uma árdua rotina de dedicação. O produtor passa o dia inteiro em frente ao computador, equalizando, comprimindo e reduzindo ruídos de gravações antigas. Quem quiser adquirir a caixa Raros Compassos ou os outros 141 lançamentos da Revivendo, pode acessar a página do selo (www.revivendomusicas.com.br) ou ligar para o fone 41 253-3035. 
 
Gazeta do Povo. Caderno G. Terça-feira, 30/05/2000. Pág. 01.