Acalanto, Canção Para Adormecer Crianças
ACALANTO
"Canção para adormecer crianças. É a palavra erudita, designando o ato de acalentar, de embalar. No seu sentido musical, equivalente, por exemplo, ao da palavra francesa berceuse e da inglesa lullaby, foi utilizada por extensão e pela primeira vez pelo compositor brasileiro Luciano Gallet. Popularmente, nossos acalantos são chamados cantigas de ninar." (Oneyda Alvarenga, Comentários a Alguns cantos e Danças do Brasil," Revista do Arquivo Municipal, LXXX, 209, S.Paulo).
Cantiga de ninar: "O acalanto, canção ingênua, sobre uma melodia muito simples, com que as mães ninam os filhos, é uma das formas mais rudimentares do canto, não raro com uma letra onomatopaica, de forma a favorecer a necessária monotonia, que leva a criança a adormecer. Forma muito primitiva, existe em toda a parte e existiu em todos os tempos, sempre cheia de ternura, povoada às vezes de espectros de terror, que os nossos meninos devem afugentar dormindo. Vieram as nossas de Portugal, na sua maior parte, e vão passando por todos os berços do Brasil e vivem em perpétua tradição, de boca em boca, longe das influências que alteram os demais cantos." (Renato Almeida, História da Música Brasileira, 106).
Kalebja polonesa, Wiegenlied alemão, Cancíon de cuña espanhola. Os nossos indígenas tinham acalantos de extrema doçura, como um, de origem tupi, onde se pede emprestado ao Acutipuru o sono ausente ao curumi.
No idioma nheengatu o acalanto se diz cantiga do macuru. Macuru é o berço do indígena (Barbosa Rodrigues, Paranduba Amazonense, 287).
Em quase todos os acalantos, o final adormecedor é uma sílaba que se canta com várias notas, á-á-á-á, ú-ú-ú-ú, o ru galaico, ainda popular nas cantigas de berço portuguesas. Creio que esse processo, de entonação primária, é uma reminiscência melismática, um índice oriental de sua origem, através da Península Ibérica. Registraram acalantos em Portugal entre outros: Armando Leça, Música Popular Portuguesa, Porto, s/d; Jaime Lopes Dias, Etnografia da Beira, vol.VI, Lisboa, 1942; Maria Clementina Pires de Lima Tavares de Sousa, Folclore Musical, Porto, 1942; Luis Chaves, Natal Português, Lisboa, 1942; Gonçalo Sampaio, Cancioneiro Minhoto, Porto, 1944; Jaime Cortesão, O Que O Povo Canta em Portugal, Rio de Janeiro, 1942; em Porto Rico, Maria Cadilla de Martínez, Juegos y Canciones Infantiles de Puerto Rico, San Juan, 1940; no Uruguai, Ildefonso Pereda Valdes, Cancionero Popular Uruguayo, Montevideo, 1947; no Brasil, Sílvio Romero, Cantos Populares do Brasil, Lisboa, 1883; Alexina de Magalhães Pinto, Os Nossos Brinquedos, Lisboa, 1909; Pereira da Costa, Folclore Pernambucano, Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio, 1908; Amadeu Amaral, Tradições Populares, São Paulo, 1948; Lindolfo Gomes, Contos Populares Brasileiros, 2ª edição, São Paulo, 1948; Rodrigues de Carvalho, Cancioneiro do Norte, 2ª edição, Paraíba, 1928; Cecília Meireles, "Infância e Folclore", A Manhã, Rio, 1943; Afonso A. de Freitas, Tradições e Reminiscências Paulistanas, São Paulo, 1921; Mariza Lira e Leonor Posada, Uma, Duas Argolinhas, Rio, 1941; Heitor Villa-Lobos, Guia Prático, coleção de músicas Rio s/d; Frei Pedro Sinzig, O.F.M., O Brasil Cantando, Petrópolis, 1938; Gilberto Freire, Casa Grande & Senzala, 5ª edição, Rio, 1946; Veríssimo de Melo, Acalantos, Fortaleza, 1949; "Dorme-Nenês", Evanira Mendes, Folclore, 3, S. Paulo, 1952, 24, solfas e análise musicológica.
Para o estudo geral ver ainda, J. Leite de Vasconcelos, Opúsculos, VII, "Canções do Berço", 780-927, com onze solfas e notas preciosas, Lisboa, 1938; The Oxford Dictionary of Nursery Rhymes, edited by Iona and Peter Opie, Oxford University Press, Neasden, Londres, 1951, com quinhentos acalantos e cantigas tradicionais de berço, com pesquisas sobre origens, confrontos, registros bibliográficos, etc.
CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Coleção Terra Brasilis. Rio de Janeiro. Ediouro, 1972. 27p.
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