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Curiosidades
Mais Histórias de Carnaval I

Ensaios de Carnaval por Daniel Dantas Filho

CANTO DE GALO


Há dezenove anos um clube de máscaras toma conta do centro de Recife
(Roberto Fernandes)

Criado com o objetivo de reviver as verdadeiras origens e tradições do carnaval de rua, o Clube de Máscaras O Galo da Madrugada tinha apenas a intenção de ser um clube de frevo e levar alegria para as ruas do bairro de São José - tradicional reduto do carnaval pernambucano. Hoje, O Galo - como é chamado pelos foliões - é estrela máxima do carnaval brasileiro. Abre oficialmente o Reinado de Momo em Pernambuco, no Sábado de Zé Pereira, e seu desfile consegue reunir o maior número de foliões do planeta Terra, nas ruas dos bairros de São José e Santo Antônio. A cada ano, a festa do Galo cresce. Em seu 19º desfile, neste carnaval de 97, o Galo vem animado por 27 trios elétricos, mais de trinta carretas de som e seis carros alegóricos. Uma festa orçada em cerca de R$ 1 milhão, que emprega mais de 600 músicos, entre centenas de outros profissionais, para colocar O Galo na folia das ruas.
Ganhou projeção internacional, sem perder as suas tradições. Cresceu fenomenalmente, sem perder a simplicidade dos antigos carnavais, em que a alegria do folião, solto nas ruas, é o que conta. Por trás de sua engrenagem , O Galo tem uma explicação para tamanho sucesso: amor ao carnaval, planejamento, e muita disposição. Uma mistura que dá no maior carnaval do mundo.

Almas penadas
Idealizado por seu presidente perpétuo Enéas Freire, 66 anos, na década de setenta, O Galo foi fundado em 24 de janeiro de 1978, na Rua Padre Floriano, 43, na casa de Dona Betinha, no bairro de São José. Entre seus fundadores estavam: Dona Betinha, Enéas Freire, José Mauro Freire, Antônio Carlos Freire, Rômulo Guerra Meneses, Cláudio Meneses, Sávio, Flávio, Hermano, Mauro Scanoni, George do Couto, Rogério Félix e Paulo Jhonson, entre outros. Em comum, todos insatisfeitos com os rumos do carnaval da época, que havia se enclausurado nos salões dos clubes sociais, em detrimento de sua manifestação mais genuína, nas ruas, junto ao povo-folião.
No carnaval de 78, a agremiação marcou sua primeira presença nas ruas do bairro de São José. Um grupo de 75 pessoas fantasiadas de almas penadas, com seus sacos de confetes e serpentinas, acompanhadas por uma orquestra de frevo de 22 músicos, que arrastou centenas de moradores e amigos do bairro. Uma Kombi alugada foi usada para os deslocamentos do grupo. Nesse primeiro carnaval, O Galo deixou bem claro a sua especialidade: frevo de rua, frevo canção e frevo de bloco.
No carnaval do ano seguinte, a agremiação carnavalesca mostra sua vocação para o crescimento ao desfilar com 350 pessoas fantasiadas de palhaços, almas, morcegos, diabos, árabes, cabeções de galos, arlequins e pierrôs, entre outras mascaradas. O Galo vai ganhando o coração do povo e respeito pela Imprensa. No carnaval de 1980, tendo como tema de fantasia a Nega Maluca e o Nego Mississipi, O Galo, com seu frevo de metais, enlouquece cerca de 800 foliões, que percorrem as ruas e ruelas do centro do Recife. No carnaval de 81, são mais de 1.500 foliões com diversas fantasias e máscaras. Nesse ano, O Galo cria também o desfile de fantasia de papel na Praia de Boa Viagem.
A partir do carnaval de 84, as orquestras de frevo do galo passam a desfilar em cima de caminhões. No carnaval de 1985, foi a vez do galo homenagear o pernambucano de Surubim, Abelardo Barbosa - O Chacrinha - com o troféu Galo de Ouro, em palanque armado na Praça Independência. A partir do carnaval de 86, O Galo adota os trios elétricos em seus desfiles.

O maior do mundo
Grande folião do Galo, o jornalista Stélio Gonçalves, ex-diretor de jornalismo da Rádio Clube de Pernambuco, um dia chegou a profetizar que O Galo seria a maior agremiação carnavalesca de rua de Pernambuco. No dia 28 de janeiro de 1991, a profecia de Stélio se cumpre: Mais de um milhão de foliões acompanham O Galo, em frevo rasgado e muito colorido de fantasias e máscaras. As ruas e pontes da cidade foram tomadas pela irreverência do galo que desfilou ao som de duas orquestras de frevo, 12 carros de som e oito trios elétricos. No carnaval de 93, na festa de 15 anos da agremiação, teve bolo, guaraná e, após "Parabéns pra você...", O Galo ciscou o asfalto com alegria e irreverência. 13 orquestras e dez trios elétricos animaram o Sábado de Zé Pereira até o começo da noite.
No carnaval de 94 veio o reconhecimento internacional do livro de recordes Guiness Book. O Clube das Máscaras O Galo da Madrugada é o maior clube de carnaval de rua do planeta. O Galo festejava o título com fantasias luxuosas em seus trinta destaques. Um milhão e meio de pessoas caem no frevo, explodem em alegria ao cantar o refrão do hino do Galo, de José Mário Chaves: "Ei, pessoal, vem moçada. Carnaval começa com o Galo da Madrugada...". Em seu 17º desfile, no carnaval de 95, O Galo ganha novo cenário para sua folia. A prefeitura do Recife decora o rio Capibaribe com um gigantesco galo boiando sobre suas águas, tornando a abertura do carnaval do Recife um espetáculo visto em todo o mundo. Com decoração orçada em R$ 6 milhões, divididos entre a Prefeitura e a iniciativa privada, a cidade se fantasiou para receber o galináceo frenético no carnaval de 96. Camarotes, sombrinha gigante e, frevando sobre o Capibaribe, um gigantesco casal de Rei e Rainha do Maracatu. O Gigantesco galo do carnaval passado, ganhou mais onze metros (34 metros) e foi colocado sobre a ponte Duarte Coelho.
O Galo entra na Internet com home-page contendo todas as informações sobre o clube. Vinte trios elétricos e duas freviocas animam cerca de 1,5 milhão de pessoas na maior festa de carnaval de todos os tempos. A folia se estendeu para o Capibaribe, que foi tomado por 150 lanchas do bloco Galinha D`água, entre as pontes da Boa Vista e Princesa Isabel. E O Galo promete um carnaval ainda maior este ano.
Para o ex-comerciante de madeiras Enéas Freire, o sucesso do Galo da Madrugada é devido à seriedade com que é planejado cada carnaval da agremiação. "A Alegria aqui é levada a sério", diz ele ao explicar sua fórmula de crescimento e planejamento comercial constante.
O carnaval no Galo começa a ser planejado dois meses após a Quarta-Feira de Cinzas. Os relatórios de cada um dos 85 diretores de cada área e setor da agremiação são examinados, com a avaliação de seu desempenho, detectando falhas para serem corrigidas. Depois vem a frase mais importante, que é a da captação de recursos. "O Galo só pode crescer se aumentar sua receita", diz Enéas.
Com o seu marketing sendo desenvolvido pelo Gruponove, O Galo tem como principais patrocinadores a Antártica, Tintas Coral e Grupo São Braz.
Com certeza de que profissionalizou muita coisa no carnaval de Pernambuco, Enéas revela que mais de mil pessoas trabalham para colocar com sucesso a agremiação nas ruas. Para explicar sua calma ao tomar todas as decisões do maior bloco de carnaval do mundo, Enéas diz que sempre há dez ou quinze por cento de imperfeição (falhas) em um desfile do porte do Galo. "Não existe eficiência total", declara. Ao ver o Galo tão crescido e famoso, diz que a agremiação é um patrimônio do povo pernambucano. E que a cada ano deve crescer.

SUPLEMENTO CULTURAL
Diário Oficial. O Estado de Pernambuco.
Ano X. Fevereiro de 1997.

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