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Histórias do Carnaval Parte V
Ensaios de carnaval por Leonardo Dantas Silva
OS MASCARADOS TOMAM CONTA DAS RUAS
Dos salões os mascarados ganharam as ruas, com seus grupos, a pé e a cavalo, estes ricamente ajaezados com seus arreios em prata, marcando assim o início do carnaval da burguesia dos anos cinqüenta do século XIX. O entrudo português, perseguido desde os tempos de Felipe II (1528-1621), foi cedendo lugar a costumes mais civilizados, bem ao gosto dos carnavais de Paris, Nice, Veneza, Nápoles, Colônia e Munique.
É dessa época o aparecimento de grupos mascarados de expressão, a tomar conta das ruas dos bairros do Recife, Santo Antônio, São José e Boa Vista, em carros abertos puxados por cavalos, ou mesmo a pé, segundo comenta o Diario de Pernambuco, em sua edição de 14 de fevereiro de 1853:
"Retrospecto semanal - Falando acerca do entrudo ou carnaval havíamos dito que embora não fosse a mascarada uma espécie de divertimento isento de graves inconvenientes, contudo nos parece preferível ao folguedo grosseiro e bárbaro d`água, dos vermelhões, das fontes podres, etc. a nossa asserção, pois, segundo nos parece, tomada ao pé da letra, é que o gosto pelas máscaras desenvolveu-se prodigiosamente neste ano. Brilhantes passeios de carros e a cavalo e até mesmo a pé, quatro bailes noturnos, sendo dois no Apollo e dois no Santa Isabel, ofereceram aos mascarados boas ocasiões de se divertirem.
Assim passou o carnaval. O triunfo das máscaras sobre o entrudo d`água é um bem apreciável: os costumes se amenizam nem se purificam de outra sorte, as transições são indispensáveis e inevitáveis; e o que hoje vence, por menos bárbaro e prejudicial, amanhã será vencido".
No carnaval seguinte, após enaltecer a diminuição das "batalhas" com limas-de-cheiro, o Diario de Pernambuco anuncia, em sua edição de 6 de março de 1854, o aparecimento de um conjunto de mascarados a imitar um cortejo de reis negros, ao sair com seus maracatus nas festas de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes, ou nas festas de Nossa Senhora do Rosário das irmandades dos homens pretos de suas igrejas nos bairros de Santo Antônio (sec.XVII) e Boa Vista (sec XVIII).
Entretanto o que mais parece ter entretido o povo cativado o seu interesse foi sem dúvida a imitação dos costumes dos africanos, na maneira por que fazem seus ordinários divertimentos, os seus maracatus. A imitação com efeito foi fiel, e os caracteres figurativos não podiam ser mais expressivos. Ver um desses grupos mascarados é ver em dia do Rosário o rei de uma nação africana, debaixo da grande umbela, acompanhado dos seus súditos masculinos e femininos, a fazerem-lhe mil festas, dançando e saracoteando aos som dos mais esdrúxulos instrumentos, era ver a mesma cousa sem a menor diferença.
A crítica, porém, continuou bem presente nos grupos de mascarados tendo o escritor Antônio Pedro Figueiredo registrado, em sua secção "A Carteira", do Diario de Pernambuco de 3 de março de 1857, "a imensa quantidade de máscaras que percorreram as ruas da cidade a pé, a cavalo e em carros.. Apareceram muitas extravagâncias e caprichos nos disfarces, mas haviam também interessantes e historicamente vestidas (...) Entre as mais interessantes notava-se um grupo fingindo alguns engenheiros ingleses, ocupados nos trabalhos do caminho de ferro e das obras de iluminação a gás desta cidade. Foi com efeito o disfarce mais espirituoso e pitoresco que se apresentou. Todos os indivíduos trajavam calça, paletó, polaina e luvas brancas, com chapéus-de-sol cobertos com fazenda também branca e com vários instrumentos científicos (...) Desta forma trajados e imitando os gestos daqueles que representavam, andavam pelas ruas levantando plantas e traçando nivelamentos".
Em 1859, novamente o Diario de Pernambuco registra, em 8 de março, a presença da mascarada a tomar conta das ruas: "Está em seu fervor o carnaval e a mascarada tem concorrido este ano com toda sua animação. Nesse divertimento, que muito bem substituiu o entrudo, aparecem algumas vezes lembranças com aquele espírito que falta a quase todos os nossos máscaras".
SUPLEMENTO CULTURAL
Diário Oficial. Estado de Pernambuco.
Ano X. Fevereiro de 1997
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