A dança da moda
A dança da moda
Leonardo Dantas Silva
Nessas festas de junho e porque não dizer no ano inteiro, só se fala em forró, como sendo um ritmo de estrutura própria e independente dos demais, tal qual o baião nos anos cinqüenta do século passado Naquela época assim cantava Luiz Gonzaga a composição de Zédantas: “Ai, ai, ai ai! / São João. / Ai, ai, ai ai! / São João. / É a dança da moda / E em toda roda / Só pedem o baião...”
Para melhor explicar tudo isso, lembrei-me do verbete – forró –, por mim escrito para o Dicionário da Música Brasileira (S. Paulo: Art-Editora, 1998) que passo para vocês: FORRÓ - Abreviatura de forrobodó e forrobodança, de uso comum na imprensa pernambucana da segunda metade do século XIX, para designar o local onde acontecia determinado baile popular. O vernáculo é bem brasileiro, nada tendo a ver com for all, como querem alguns descobridores de anglicismos. O seu uso tornou-se comum na imprensa do Recife – América Ilustrada, nº 25/ 1882, e Mephistopheles, nº 15/1883 –, sendo classificado por Rodrigues de Carvalho, in Cancioneiro do Norte (Fortaleza 1903), como “bailes da canalha” e por Pereira da Costa, in Vocabulário Pernambucano (1908), como “divertimento, pagodeira, festança”. Com o uso continuado, o vocábulo forrobodó passou a ser utilizado em sua segunda acepção – forrobodança –, assim definida na A Lanceta, nº 121 / 1913: “... é um baile mais aristocrático do que o Chorão do Rio de Janeiro, obrigado a violão, sanfona, reco-reco e aguardente. Nele toma parte indivíduos de baixa esfera social, a ralé [...] A sociedade que toma parte no nosso forrobodança é mesclada; há de tudo. Várias vezes verificam-se turras e banzés sem que haja morte ou ferimentos. Fica sempre tudo muito camarada; muito bem, muito obrigado” (A dança da moda).
A imagem diferente nos é pintada, já nos anos cinqüenta, por Zédantas (José de Souza Dantas Filho), in Forró do Mané Vito, gravado por Luiz Gonzaga em 1949 (RCA 80.0668B); ainda Zédantas, Forró em Caruaru, gravado por Jackson do Pandeiro em 1955; Edgar Ferreira, in Forró em Limoeiro, também gravado por Jackson do Pandeiro (Copacabana nº 5155) e, novamente, Zédantas, in Forró de Zé Antão, também gravado por Luiz Gonzaga em 1962 (RCA BBL 1175B).
No final dos anos 50, com a construção de Brasília, foram transferidos, para o Planalto Central, dezenas de milhares de nordestinos que, a exemplo do que já vinha acontecendo no Rio de Janeiro e São Paulo, vieram estabelecer os seus bailes populares com o título de forró, geralmente antecedendo ao nome do proprietário: “o forró de Zé do Baile toca o ano todo/ toca o ano todo...”.
Nos nossos dias, no forró, a exemplo do baião nos anos cinqüenta, existe lugar para todos os ritmos rurais do Nordeste e até de outras regiões. Sob o seu rótulo, vamos encontrar o xote, o rojão, a marcha de roda e a marcha junina (ambas oriundas da marcha popular portuguesa), o xenhennhém, a toada, o samba rural, o xaxado, o coco, a mazurca, a rancheira e o próprio baião, como também ritmos alienígenas como o merengue, que aparece travestido de lambada e quadrilha.
Aproveitando a onda de modismo de velhos e moços, o forró tornou-se a palavra de ordem, integrando o repertório de dezenas de conjuntos do gênero, além dos grupos do chamado Forró pé-de-serra, que o Ivan Ferraz e o Elias Lourenço não se cansam de promover nos seus programas radiofônicos diários.
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