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Breve Informe Sobre os Maracatus
BREVE INFORME SOBRE OS MARACATUS
(OLÍMPIO BONALD NETO)
Os Maracatus representam uma das mais belas manifestações da rica e variada Cultura do povo pernambucano.
Eles integram o Ciclo Folclórico do Carnaval, ao lado das manifestações tradicionais como os Clubes de Frevo, os Blocos Carnavalescos, os Caboclinhos, as Troças, as Tribos de Índios, os Clubes de Alegoria e Crítica, os Gigantes Foliões, os Bois de Carnaval, os Ursos, além das mais recentes Escolas de Samba, das Turmas de Sujos, dos Blocos Baianos, dos Afoxés e de outras novidades impostas pela mídia, algumas de caráter exclusivamente comercial.
Há dois tipos de Maracatus, bem diferentes na forma, desenvolvimento e origens, fincadas na cultura africana, conforme ensina Katarina Real no seu livro clássico sobre o Carnaval do Recife, de onde tiramos algumas das informações abaixo.
Maracatus Urbanos ou de Baque Virado, herdeiros das velhas Nações africanas, tão caracteristicamente recifenses, são os mais antigos, nascidos dos cortejos dos “Reis do Congo”, de onde também provieram os “Congos”, “os Cancumbis”, as “Congadas” e os “Afoxés” que existiram e ainda existem em outros estados brasileiros, do Rio Grande os Sul ao Nordeste, conforme ensina Edson Carneiro.
Provieram das festas da Coroação dos Reis do Congo, quando os escravos africanos, eram induzidos pelas autoridades policiais – ciosas da paz entre os excluídos -, a escolher seus “Reis”, “Rainhas” e seus “Governadores” e os “Juízes da Nação”, numa lúdica cerimônia abençoada festivamente pela própria Igreja Católica, nas Igrejas das Irmandades dos Homens Pretos e Pardos, devocionadas à N. S. do Rosário.
Após as cerimônias havia o desfile da “corte real”, como o séquito acompanhado pelos nobres, as damas da corte, a orquestra de baque-virado, composta de caixas de guerra, taróis e bombos ou zabumbas – o mesmo instrumental de poderosa percussão usado para marcar os passos das danças dos terreiros em homenagem aos santos e entidades (Exus e Orixás).
O antropólogo Raul Lody, apresentando o belo Álbum sobre o Maracatu Leão Coroado, observa como a dança do Maracatu lembra, pelos movimentos de braços um remar de barco; dramatizando o remar de atravessar o Atlântico e chegar novamente às terras ancestrais em São Paulo de Luanda”..., lá nos confins da África Negra.
A “corte real” é um arremedo de caricata monarquia portuguesa no Brasil, vestida à moda do Sec. XV, com perucas de algodão, pesados veludos e sedas em cores fortes de vermelho, amarelo, azul e verde, ao sol abrasador dos trópicos, com o Maracatu desfilando o seu Rei, a Rainha, e seu luzidio séquito de príncipes, condes, vassalos, porta-bandeira, embaixador, baianas, lanceiros e escravo carregando o pálio real, todos suados debaixo das vistosas fantasias.
Conservaram as figuras de destaque como as calungas – as bonecas de madeira preta ricamente vestidas e adornadas com brincos e colares de ouro – representando figuras da corte como eram as do Maracatu Elefante de D. Santa, batizadas por Dona Emília, Dona Leopoldina, Dom Luiz ou a belíssima calunga D. Joventina que esteve sob a tutela da pesquisadora Katarina Real em sua casa, em Santa Fé, N. México EE UU e que em 1995 retornou ao Recife, trazida por ela mesma para ficar definitivamente em Pernambuco sob a guarda do Museu do Homem do Nordeste da Fundaj.
Todas as calungas, inclusive as dos maracatus rurais, que sempre são feitas de pano (bonecas brancas), participam doas desfiles e são conduzidas respeitosamente, nas mãos enluvadas das solenes damas-do-paço durante as exibições carnavalescas.
Por sua vez, os Maracatus Rurais ou de Baque Solto representam uma variante do tradicional Maracatu Nação. Suas origens, num processo complexo de sincretismo cultural, confundem-se com outros folguedos na Zona da Mata canavieira de Pernambuco.
A antropóloga Katarina Real, após examinar as hipóteses de aparecimento desses maracatus, a que denominou Rurais, em justaposição aos urbanos, entende que eles não teriam nascido diretamente da...”instituição mestra do Rei do Congo” mas que representam uma fusão de elementos de vários folguedos populares existentes no interior de Pernambuco (um belo exemplo da dinâmica folclórica): pastoril e “baianas”, cavalo-marinho, caboclinhos, folia (ou rancho) de Reis, etc., “e assim...os maracatus iam incorporando toadas de maracatus-nações, ou “arruendas”, que existiam nas cidades do interior de Pernambuco, como em Goiana.
A maneira como já fora registrado por Guerra Peixe que via neles”...pelo menos musicalmente, uma fusão de elementos tomados dos antigos maracatus do Recife, com os originados de localidades diversas do Estado de Pernambuco”.
Esses maracatus “modernos”, de baque-solto, ou maracatus de orquestra segundo Ascenso Ferreira emigraram para a capital pernambucana com os camponeses sem terra , no êxodo rural que desde a 3ª década deste século XX vem inchando as ruas, os alagados e os morros da área metropolitana.
Eles começaram a desfilar no carnaval do Recife na década de 30, continua ensinando Catarina Real e, logo depois, como não eram entendidos nos seus aspectos diferenciais, sofreram uma verdadeira agressão cultural, obrigados sob pressão (e pela desinformação preconceituosa, dizemos nós) da Federação Carnavalesca Pernambucana a se tornarem de Baque-Virado, adotando o ritmo dos Maracatus-Nações, urbanos, recifenses.
O diferencial desses Maracatus Rurais, além da música que toca vários ritmos, como coco, baião, samba e frevo, das toadas de improviso dos emboladores (daí a denominação de “baque-solto”), da orquestra, - o “terno”- que incorpora instrumentos de sopro como o trombone, o trompeto o saxofone e o clarinete – e da calunga que é uma boneca-de-pano ao em vez de ser de madeira negra, os que os distinguem dos maracatus urbanos são os Caboclos que os acompanham como verdadeira ala-de-segurança indígena.
Tanto os Taxauas ou os Caboclos-de-Pena, com seus cocares, armados de arco e flechas indígenas como os Caboclos-de-Lança ou Caboclo-de Guiadas, com seus surrões sonoros, sua psicodélica gola bordada de vidrilhos multicoloridos e suas longas lanças enfeitadas de fitas coloridas, compõem a espetacular Guarda Real dos Reis do Congo que exibem, orgulhos e agressivos, nos cortejos.
Quando, há alguns anos atrás, estudamos as origens desses heráldicos Caboclos os denominamos azougados guerreiros de Ogum” para enfatizar a ascendência religiosa na invocação dos orixás protetores desses brincantes de maracatus rurais.
Na verdade todos os Caboclos de lança e ou de penas que entrevistamos declaravam afinidades com terreiros de Xangô (linha africana) ou de Macumba (linha indígena), com devoções a santos católicos sincretizados com é o cavaleiro da Lua, São Jorge, que representa o Orixá, deus Nagô da guerra, Ogum.
Muitos desfilam “autuados”, sob efeito de poderosa “beberagem” à base de limão, aguardadente, azeite, azeite doce e pólvora que tomam em homenagem à Zé Pilintra para poderem ficar “azougados” e ativos, carregando por muitas e muitas horas, a subir e descer ladeiras e varando estradas e campos, o peso do sonoro surrão com os chocalhos, a gola bordada de milhares de vidrilhos e a longa e pesada lança coberta de fitas. Pareceu-me tratar-se de um ainda pouco estudo “doping popular...”
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