Baile
BAILE
Dança, reunião de danças, bailado, baile das flores, baile das estrêlas. Descompostura, agressão verbal pública, dar um baile. Na França, diz-se donner un bal à quelqu`un: le maltraiter en paroles ou en action (Larousse). O baile popular compreende sambas , cocos, sapateados. O baile paulista , mineiro e do Rio Grande do Sul era o Fandango, com suas incontáveis partes. O baile da classe média era das danças européias, valsas polcas, schottischs, quadrinhas, lanceiros, agora com fox-trots, rumbas, congas, swuings, jitterbug, etc. Difícil no ponto de vista do povo, definir o baile, idêntico à batucada, ao assustado (se for improvisado), ao forrobodó, ao arrastapé. Ver Mana-Chica, Fandango, especialmente o verbete dança. Os pastoris e bailes pastoris são autos do ciclo do Natal, cantados e dançados por meninas e moças, em louvor do nascimento de Jesus Cristo. A indumentária própria, nalguns lugares, vive a tradição dos cordões, azul e encarnado, com seus partidários fanáticos e barulhentos, a música velha e doce. Pertencem os pastoris a um gênero eminentemente popular no nordeste e norte do Brasil, reaparecendo no mês de dezembro e possuindo auditório fiel. Renato Almeida estudou os bailes pastoris (História da Música Brasileira, 225) e Ascenso Ferreira fez uma deliciosa reportagem histórica, como ilustrações de Luís Cardoso Aires e documentação musical (Arquivos, Prefeitura Municipal do Recife, 1º e 2º n.º, 135, de 1943). Pereira da Costa (Folclore Pernambucano, 189), Gustavo Barroso (Ao Som da Viola), Sílvio Romero (Cantos Populares do Brasil), Melo Morais Filho (Serenatas e Saraus, I, Rio de Janeiro, 1902) transcreveram e estudaram bailes pastorís. O baile, na acepção clássica, é uma reunião de danças, bailados independentes um do outro e sem intenção temática. Trata-se, evidentemente, de mera, simples e poderosa expressão lúdica. Desde que apareça um motivo central, um enredo orientador da coreografia será um auto, isto é, uma ação figurativa de assunto, uma representação, que psicologicamente ultrapassa o sentido real do baile, bailarino, bailar, sinônimos de folguedo, folgador, folgança. O baile pastoril, em Portugal notadamente, tomou outro mundo funcional. Sendo executado diante do presépio, simulacro do grupo do grupo de São José, Nossa Senhora e o Menino-Deus, com os animais-testemunhas e no dia de Reis, 6 de janeiro, com pastores e os Magos Reis do Oriente, reuniu, ao redor do motivo da oblação ao Deus-Menino, as apresentações das diversas entidades que vinham saudá-lo, trazendo ofertas. Assim, nos finais do séc. XVIII e ao correr do séc. XIX, tivemos nos bailes pastoris pequeninos autos simbólicos de homenagens, sem interligação, todos convergindo para o presépio, hoje desaparecido porque os pastoris são públicos e dançam em tablados, ao ar livre, ao som de solfas diversas e com ampla porcentagem, alheias ao espírito votivo. Esses antigos bailes foram colecionados por Melo Moraes Filho, no primeiro como do Serenatas e Saraus, havendo as mais inesperadas inspirações, Baile da Aguardente, Baile da Patuscada, Baile do Meirinho, Baile do Caçador, etc. Ver ainda o primeiro tomo do Folclore Brasileiro, de Sílvio Romero, Rio de Janeiro, 1954.
CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Coleção Terra Brasilis. Rio de Janeiro. Ediouro, 1972. 129p.
|