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Histórias do Carnaval Parte IV
Ensaios de carnaval por Leonardo Dantas Silva
ORDEM, DECÊNCIA, REGOJIZO E BOM GOSTO
Os bailes de máscaras brasileiros começaram nos primeiros anos do século 19, com o intuito de civilizar o entrudo
Os primeiros bailes de máscaras aconteceram na França, em plena Idade Média, chegando a serem realizados três vezes por semana; haja vista o longo período do carnaval, que tinha seu início em 1º de janeiro. Nos séculos XV e XVI, surgiram, na Itália, os mascarados nas ruas, e faziam sucesso os bailes da Ópera, em Paris.
No Brasil, os bailes de máscaras apareceram com o intuito de civilizar o entrudo, tendo o primeiro acontecido em 1840 no Rio de Janeiro, promovido pela mulher de um hoteleiro, sendo ele situado no Largo do Rossio, segundo noticia O Jornal: "Hoje, 22 de janeiro, no Hotel Itália, haverá baile mascarado com excelente orquestra, havendo dois cornets à pinton".
O sucesso do primeiro baile fez com que a promoção se repetisse, em 20 de fevereiro do mesmo ano, sendo assim anunciada: "Baile de Máscaras como se usa na Europa, por ocasião do carnaval".
Esses bailes, bem à moda dos carnavais de Veneza, Nice ou Paris, tiveram sucedâneos no Recife. O primeiro deles veio acontecer na Passagem da Madalena (Rua Benfica), sendo objeto de correspondência publicada pelo Diario de Pernambuco de 13 de fevereiro de 1845, subscrita por "Um Mascarado": "o divertimento inocente, inteiramente novo para esta Província, teve estas feições: ordem, decência, regozijo e bom gosto. Para o primeiro ensaio força confessar que o baile teve belas feições (...) Entre os 33 mascarados que apareceram, dez trajando com gosto, propriedade e elegância é alguma cousa"...
Em sua edição de 19 de fevereiro de 1846, o Diario de Pernambuco traz o convite para a festa que tinha o título de "Carnaval Campestre", prevista para a segunda-feira, dia 23, na casa-grande do sítio do sr. Brito no Cajueiro (local hoje ocupado pelo Real Hospital Português de Beneficência), pedindo o "mestre-sala" aos convidados o comparecimento "com suas famílias no trajo mais simples possível. Este pedido é para comodidade e liberdade dos mesmos convidados. Adverte o mestre-sala que os srs. convidados que quiserem ir ao baile mascarados o poderão fazer, participando-lhe com antecedência". Parecia haver um sensível cuidado com os "penetras", sobretudo no que diz respeito à segurança do chamado sexo frágil.
O primeiro baile de máscaras aberto ao público, mediante cobrança de ingressos, vem a ser anunciado pelo Diario de Pernambuco de 18 de fevereiro de 1848, sob o título "Um Baile Mascarado".
"No ano de 1844 teve lugar no Teatro São Pedro de Alcântara da Corte do Rio de Janeiro o 1º Baile Mascarado pelo tempo do carnaval. (...) Pernambuco, cuja capital rivaliza em luxo e polidez com a Corte deste Império, não deve ser vítima dos prejuízos (preconceitos) do século XVIII. É contando com a civilização e polidez dos habitantes desta segunda capital do Império que vai se dar este ano o primeiro Baile de Máscaras público debaixo das condições seguintes que serão religiosamente guardadas..."
O baile aconteceu na Estância - área da antiga estância de Henrique Dias (sec. XVII) hoje ocupada pelas Ruas Henrique Dias, das Fronteiras, parte da Rua Dom Bosco e Praça do Chora Menino - na casa do sr. José Batista Ribeiro de Farias, segundo noticia o mesmo jornal em sua edição daquele ano.
Os bailes mascarados passaram a ser uma constante na vida social da cidade do Recife, durante o período carnavalesco, transferindo-se das residências para os teatros, como o Santo Antônio e o Santa Isabel, e este , no carnaval, de 1869, recebeu "um batalhão de máscaras, cada um dos quais fazia no vestuário uma letra garrafal do alfabeto romano" (Diario de Pernambuco, 10.02.1869). Neste mesmo ano, a 19 de setembro, o Teatro de Santa Isabel vem a ser destruído por um incêndio, o que deu lugar ao aparecimento na Rua das Florentinas (primeiro trecho da atual Avenida Dantas Barreto) do Teatro Santo Antônio, construído pelo empresário José Duarte Coimbra, que inaugurou em 26 de fevereiro do ano seguinte.
Com o aparecimento das sociedades recreativas, os bailes de máscaras deixaram o recinto dos teatros e se adentraram nos salões atapetados com folhas de canela e decorados com motivos carnavalescos. No Club Internacional de Regatas, fundado em 17 de julho de 1885, no Largo do Corpo Santo (bairro do Recife) e, posteriormente, transferido para o prédio n.º 53 da Rua da Aurora; no Juventude, no Pátio de São Pedro; no Philomonos, clube carnavalesco de alegorias e críticas, com sede na Rua da Imperatriz; no Club Carlos Gomes; na Sociedade Recreativa 10 de Março; no Atheneu Musical Pernambucano, dentre outros, aconteciam bailes nas quatro noites dedicadas ao carnaval, com prêmios para as máscaras que mais se destacavam, mesa de iguarias no intervalo das danças, orquestras afinadas, mestres-de-cerimônia, e tudo o mais que mandava o figurino.
Já com o título de Bail Masqué, o Club Internacional promovia animados bailes carnavalescos, descritos pelo cronista Pierrot (Osvaldo de Almeida) na edição do Jornal Pequeno de 22 de fevereiro de 1909, precursores dos Bailes da Saudade dos nossos dias.
SUPLEMENTO CULTURAL
Diário Oficial. Estado de Pernambuco.
Ano X. Fevereiro de 1997
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