BENEDITO LACERDA
Benedito Lacerda, nasceu em Macaé/RJ em 14.03.1903, e faleceu em 16.02.1958. Instrumentista, compositor e regente. Aos oito anos de idade, começou a aprender flauta de ouvido. Iniciou as atividades musicais, em sua cidade natal, como integrante da banda Nova Aurora. Aos 17 anos transferiu-se com a nova família para o Rio de Janeiro e passou a tomar lições de flauta com Belarmino de Sousa, pai do compositor Ciro de Sousa. No Rio, residiu no Estácio, famoso por seus sambistas e batuqueiros. Estudou também no I.P.M. (Instituto Nacional de Música), diplomando-se em flauta e composição. Para garantir o sustento, em 1922 ingressou na Polícia Militar, onde podia também continuar sua atividade musical, participando, de 1923 a 1925, da banda do batalhão. Em 1925, aprovado em um teste em que executou a parte de flauta da ópera II Guarany, de Carlos Gomes, obteve sua transferência para a Escola Militar de Realengo, como músico de primeira classe, tornando-se solista. Deu baixa em 1927, passando a viver de suas atuações em orquestras de cinemas e teatros. Em 1928, integrou um grupo regional, os Boêmios da Cidade, com o qual foi a São Paulo/SP, chegando a se apresentar com Josephine Baker. Em 1929, com o advento do cinema falado, passou a tocar em grupos de choro, como flautista, e em orquestras de jazz, como saxofonista. Como não concordasse com a maneira de as orquestras de jazz executarem a música brasileira, resolveu organizar um grupo de músicos que acompanhassem com fidelidade o ritmo brasileiro. Criado no início da década de 1930, incluía, além dele próprio, Canhoto, Russo do Pandeiro, Macrino, Bernardo e Doidinho. Foi o compositor Sinhô quem batizou o conjunto de Gente no Morro, depois de ouvir sua interpretação no disco Brunswick dos sambas No Sarguero (com Ildefonso Norat) e Dá nele (Zé Balão), pelo desempenho da percussão, com breques e batuques, e pelos seus ponteios de flauta. Nesse conjunto, famoso pelas invenções harmônicas que fazia com o samba, atuava como regente, além de executar solos e cantar. Como cantor, gravou várias composições pela Brunswick, com o Gente do Morro, entre as quais A nega sumiu, em dupla com Sílvio Caldas, lançada com sucesso em 1930. Além do acompanhamento de diversos cantores, o grupo fez gravações, não só na Brunswick, como também na Colúmbia e na Parlophon. Em 1930, Gente do Morro lançou um disco, pela Brunswick, que incluía Tem aguinha (J.Machado), interpretada por ele, e A Nega sumiu (de sua autoria). Pouco tempo depois, o grupo se desfez, para ressurgir transformado no famoso Conjunto Regional de Benedito Lacerda, caracterizado não mais pela percussão, mas pelos efeitos dos instrumentos de sopro e de corda. Em sua primeira formação, era integrado por ele (flauta e líder), Gorgulho (Jaci Pereira) (violão), Ney Orestes (violão), Canhoto (Valdiro Frederico Tramontano) (cavaquinho) e Russo do Pandeiro (pandeiro). Depois de sofrer algumas mudanças, como a substituição de Gorgulho por Carlos Lentine, a partir de 1937 o grupo se estabilizou com ele próprio na flauta, Dino e Meira, nos violões, e Popeye, no pandeiro. Com essa formação atuou até 1950, quando Canhoto assumiu sua direção, transformando-o no Regional de Canhoto. O Conjunto Regional de Benedito Lacerda gravou com grandes intérpretes, entre os quais Francisco Alves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Carmen Miranda e muitos outros. Em 1933, foi co-fundador da Casa de Caboclo, idealizada pelo dançarino Duque. Além de grande instrumentista, foi compositor de sambas, marchas e choros. Pertencendo ao Clube Tenentes do Diabo, compôs sua primeira música de Carnaval, a marcha Vai haver o diabo (com Gastão Viana), que se tornou uma espécie de hino de um novo grupo que se formou dentro do clube e que tinha o mesmo nome da música. Ainda em 1933, venceu um concurso musical patrocinado pelo jornal A Noite, com a composição junina Briguei com São João, ganhando como prêmio uma flauta de prata, que sempre conservou consigo. Também na década de 1930, com o advento do rádio no Rio de Janeiro, apresentou-se em quase todas as emissoras que surgiam, entre elas a Rádio Sociedade, a Rádio Clube, a Rádio Guanabara e a Rádio Philips. Com seu regional, trabalhou também em várias delas, inclusive na Rádio Tupi, onde atuou durante alguns anos. Em 1934 compôs com Jorge Faraj a valsa Lela, iniciando com o compositor uma fértil parceria. Em 1935, ao lado de Francisco Alves e Carmen Miranda, participou dos espetáculos de inauguração da Radio El Mundo, em Buenos Aires, Argentina. O maior sucesso do Carnaval de 1935 foi sua marcha Eva querida (com Luís Vassalo), gravada por Mário Reis, e, no ano seguinte, obteve êxito igual com a marcha Querido Adão (com Osvaldo Santiago), gravada por Carmen Miranda. No Carnaval de 1939, em parceria com Humberto Porto, compôs mais um sucesso, a marcha A Jardineira, que, gravada por Orlando Silva, levantou polêmicas em relação a sua semelhança com uma composição do início do século. Paralelamente às suas atividades de compositor, continuava sua atuação como instrumentista e líder. Por volta de 1940, na época áurea dos cassinos, apresentou-se como seu regional no Cassino da Urca e no Cassino Copacabana. Nessa época, como flautista e ao lado de Pixinguinha no saxofone, gravou, com acompanhamento de seu regional, uma série de choros, cuja parceria, segundo consta, teria sido dada, na sua maioria, por Pixinguinha, pela divulgação que vinha fazendo de sua obra. Entre os choros gravados na Victor (na época, dirigida por ele), destacam-se Naquele tempo, Sofres porque queres, Proezas de Sólon, Só para moer, Canhoto, Descendo a serra e Um a zero. Com Pixinguinha, excursionou por todo o Brasil, criando uma nova maneira de tocar, com a flauta fazendo a primeira voz e o sax a segunda, em contraponto. Ainda em 1940, em parceria com Aldo Cabral, com quem fez outras músicas, compôs Despedida da Mangueira, samba que fez grande sucesso no Carnaval, gravado por Francisco Alves. Nesse mesmo ano, venceu o concurso carnavalesco promovido pela prefeitura, com a marcha Lero-lero (com Frazão), gravada por Orlando Silva. Em 1942, foi um dos fundadores da UBC (União Brasileira de Compositores). Em 1944 foi novamente vitorioso no concurso do Carnaval, dessa vez nos gêneros marcha, com Verão no Havaí (com Haroldo Lobo), gravada por Francisco Alves, e samba, com Ninguém ensaiou (com Haroldo Lobo), gravado por Araci de Almeida. Venceu ainda o concurso da prefeitura carioca em 1946 com a marchinha Espanhola (com Haroldo Lobo). Em 1948, o samba Falta um zero no meu ordenado (Com Ari Barroso) foi grande sucesso na interpretação de Francisco Alves. Em 1947, transferiu-se para a SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música), da qual foi eleito presidente em 1948 e reeleito em 1951. Em 1950, Francisco Alves gravou seu samba A Lapa (com Herivelto Martins), que foi muito cantado no Carnaval. Sua última marcha de sucesso foi Acho-te uma graça (com Haroldo Lobo e Carvalhinho), que lançada pelo animador e cantor César de Alencar no Carnaval de 1952, foi premiada pela prefeitura.
Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. São Paulo, Art Editora, 1977. 401p.
O texto acima não representa a biografia completa do artista, mas sim, partes importantes de sua vida e carreira.
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