Humberto Teixeira
HUMBERTO TEIXEIRA
Humberto Teixeira, cearense de Iguatu, nasceu em 05.01.1915, e ainda criança, aprendeu a tocar bandolim e flauta. Fez o curso secundário na cidade de Fortaleza no Liceu do Ceará. Naquela época atuou como flautista-aluno durante algum tempo na Orquestra Iracema. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1932, onde em 1934, foi um dos vencedores do concurso de músicas carnavalescas promovido pela revista “O Malho” com a sua música Meu Pedacinho, ao lado de gente como Ari Barroso e Cândido das Neves. Compunha, então, valsas, toadas, modinhas e canções. Chegou a gravar Sinfonia do Café, o que lhe abriu caminho para que outros artistas gravassem suas músicas como Deus Me Perdoe, por Ciro Monteiro; Só Uma Louca Não Vê, por Orlando Silva; Meu Brotinho, por Francisco Carlos, e Natalina pelo conjunto Quatro Ases e Um Coringa.
Começou a estudar medicina e, após algum tempo, abandonou o curso. Iniciou o curso de Direito, formando-se em 1943. Paralelamente às atividades musicais, dava os primeiros passos como advogado, num escritório da Av. Calógeras. E foi lá, a mandado do seu cunhado Lauro Maia, que numa tarde de agosto de 1945, apareceu um moreno simpático, de cabeça chata e sorriso rasgado, carregando uma sanfona nas costas, e buscando um parceiro para a empreitada de lançar nas grandes capitais, a música trazida lá do seu pé de serra em Exu. Era Luiz Gonzaga, até então somente conhecido como grande sanfoneiro A partir desse primeiro encontro, a música popular brasileira nunca mais seria a mesma, pois desse longo papo que se prolongou noite adentro, surgiram os primeiros compassos de No Meu Pé de Serra e a sanfonização de uma linda peça que viria a se transformar na imortal Asa Branca. Além disso, Humberto ouviu os primeiros acordes de uma outra música que mais tarde seria chamada de Juazeiro. Entendendo de música como ninguém, percebendo a qualidade das melodias que ouvira, e tratando-se de uma pessoa honestíssima, Humberto perguntou a Gonzaga: rapaz, tudo isso é seu mesmo? Mas, o mais importante daquele encontro foi o acordo a que chegaram a respeito do baião: dentre os inúmeros ritmos nordestinos, aquele era o mais “urbanizável”, portanto, mais apropriado para o lançamento de uma campanha musical que os dois resolveram deflagrar a partir daquele momento. Assim, o baião renascia da arte destes dois gênios, substituindo-se a antiga viola, pandeiro e rabeca, pela sanfona, zabumba e triângulo, também algumas vezes estes instrumentos contavam com o auxílio luxuoso de um cavaquinho, nas gravações feitas no início da década de 1950. Entretanto, a música Baião, da dupla, precursora de um novo ritmo que se tornou coqueluche nacional, foi primeiramente gravada pelo conjunto Quatro Ases e Um Coringa, em 1946, e somente três anos após, em 1949, recebeu a gravação definitiva de Luiz Gonzaga. Com o surgimento no cenário musical brasileiro, do pernambucano Zé Dantas, em 1950, estava formada a santíssima trindade do baião.
Segue-se em ordem cronológica de gravação os maiores sucessos de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga: No Meu Pé de Serra(1946), Asa Branca(1947), Mangaratiba(1949), Juazeiro(1949), Baião(1949), Légua Tirana(1949), 17 Légua e Meia(um baião antológico de Humberto Teixeira e Carlos Barroso, de 1949, em cuja gravação está contida pela primeira vez o tripé básico composto de sanfona, zabumba e triângulo, e de quebra, um cavaquinho), Qui Nem Jiló(1950), Respeita Januário(1950), Assum Preto(1950), Xanduzinha(1950), Macapá(1950), Estrada de Canindé(1950) e Paraíba(1952). A partir de 1951 a parceria praticamente foi desfeita porque Humberto Teixeira elegeu-se deputado federal pelo seu estado natal, o Ceará, e foi defender os interesses dele, de Gonzaga e de todos os compositores brasileiros, em busca da aprovação de uma lei sobre direitos autorais. Assim surgiu a Lei Humberto Teixeira e foi por causa dessa lei que Teixeira e Gonzaga ganharam a disputa de dois americanos, Harold Steves e Irving Taylor que se apoderaram da melodia de Juazeiro, colocaram letra em inglês, intitularam-na de Wandering Swallow e deram-na a Peggy Lee que a gravou. Graças ao processo de Humberto Teixeira, a gravadora americana Capitol foi obrigada a retirar os discos do mercado.
Luiz Gonzaga ainda voltaria a fazer sucesso gravando músicas de Humberto Teixeira, sem o registro de parceria, na década de 1970. Assim aconteceu com o Baião de São Sebastião(1973), Saudade Dói(1976) e Chá Cutuba(1977). No disco de 1977, também apareceu a última música fruto da parceria famosa, Salmo dos Aflitos. Em 1974, com a gravação da música Adeus Maria Fulô, de Humberto e Sivuca, arranjada de forma magistral por este, Humberto também esteve presente na cena musical. Em 1979, no LP Eu e Meu Pai, Luiz Gonzaga gravou a lindíssima Orélia, última música conhecida deste grande compositor. A gravação dessa música soou depois como sendo uma homenagem ao seu grande amigo e parceiro, Humberto Teixeira, pois naquele mesmo ano, em 03.10.1979, a asa branca, ave nordestina eternizada na música dos dois, faria o seu último vôo, e o Brasil perderia um dos maiores talentos musicais.
Colaboração de Abílio Neto
Recife, Dezembro de 2003
|