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Biografias

Marlene

Victoria Bonaiute - MARLENE na vida artística - nasceu na capital paulista, num dia de 22 de novembro, na Bela Vista, um bairro central tipicamente italiano, cujas características tradicionais ainda se conservam em parte. Seus pais eram italianos, sendo a terceira de três filhas: Marieta, Geni e Vitória. 
Seu nome vem do pai, Victorio, falecido sete dias depois de seu nascimento. Sua mãe, D. Antonieta, não se casaria outra vez, com isso tendo de arcar sozinha com todos os encargos da manutenção e educação das meninas. Alfabetizava no Instituto de Surdos e Mudos e trabalha como costureira. 
Como pertence à Igreja Batista, consegue com que Vitorinha seja internada, pagando apenas uma taxa, no Colégio Batista Brasileiro, na Rua Homem de Melo, 57, em São Paulo. As mensalidades seriam dispensadas, em troca de Vitorinha executar serviços gerais, como a arrumação dos dormitórios. 
Nesse colégio, freqüentando por meninas e moças da alta - sociedade, estudaria dos nove aos quinzes anos, destacando-se nas equipes esportivas, assim como no coro juvenil da igreja. Também tinha queda para a declamação e se fazia acompanhar no canto com seu violão. 
Ao deixá-lo, vai cursar a Faculdade de Comércio, na Praça da Sé, com o objetivo de formar-se contadora. Ao mesmo tempo, precisa trabalhar e se emprega, durante o dia num escritório comercial. É quando começa a participar de uma entidade de estudantes, recém formada, a qual passa a dispor de um espaço na Rádio Bandeirantes, A Hora do Estudante, programa em que seria cantora. Foi quando seus colegas estudantes, por eleição, escolheram seu nome artístico. Seu dinamismo em promover as atividades da nova estudantil marca a sua passagem pela mesma, aliás o reflexo de sua natureza apaixonada por tudo que faz. 
A freqüência de Vitória às aulas, pouco, nessas alturas, já estava sendo deixada em segundo plano, direcionada que estava pelo desejo forte de ser artista. O Brasil perderia definitivamente uma cantora quando, acompanhando a sambista Jeanette Thadeu, A Garota do chapéu de Palha, vai conhecer a Rádio Tupi e é admirada com um ordenado de 200 mil-réis mensais. 
Vitória sabia que sua família, por razões religiosas e sociais, vigorantes na época, não podia absolutamente admitir nenhuma incursão no terreno artístico. Não era identificada no aparelho de rádio de sua casa, dado o providencial pseudônimo de Marlene. Só seria descoberta porque, por desventura, foi procurada, na escola, pelo cunhado Décio no mesmo horário do programa... Resultado: castigo "exemplar" de D. Antonieta na gazeteira ao chegar das "aulas". 
Nada podia, porém, fazer com que abandonasse o seu intento, tão enraigado era. Aí soube que o empresário e radialista Armando Silva Araújo (Donamar), poderia proporcionar-lhe um teste para crooner no Cassino Icaraí, em Niterói. 
Cercada da desaprovação e dos temores da família, inexperiente, toma o trem, sozinha, para enfrentar as luzes, os perigos e a concorrência da Cidade Maravilhosa. É aprovada no teste com o maestro Vicente Paiva e passa a cantar no Icaraí. O Natal desse ano seria recordado como o mais triste de sua vida, pela primeira vez longe dos seus. 
Pouco depois, recebe convite de Carlos Machado, para ser crooner de sua orquestra, no prestigioso Cassino da Urca, o mais famoso do Brasil, preferido pelos turistas, pelo qual passavam grandes cartazes internacionais, contratados pelo giro das roletas. 
Marlene foi logo se constituindo numa das atrações daquele ambiente requintado, elegante e com montagens luxuosas. Um mundo que, de repente, como um castelo de cartas, literalmente desabaria com a proibição do jogo, no governo Dutra, em abril de 1946. 
O desemprego atingiu toda a classe artística, mas para Marlene haveria uma continuação, pois seguiu com a orquestra de Carlos Machado para a Boate Casablanca. O passo seguinte é o sofisticadíssimo Copacabana Palace, com direito a promoção, de crooner, a estrela da casa. 
Em 1947, atua na Rádio Mayrink Veiga e, no ano seguinte, na Rádio Globo. Nesse ínterim, já se tinha dado sua estréia no disco, pela Odeon, em meados de 1946. No carnaval de 1947, lança um novo disco pela Odeon, com uma marchinha, Coitadinho do Papai, no REVIVENDO C.D. 78, com a companhia dos Vocalistas Tropicais, que é premiada no concurso oficial da Prefeitura do Distrito Federal. 
No cinema, mesmo antes do disco e do rádio, sua presença já tinha sido requisitada. Assim é que, desenvolta e atraente, aparece cantando nas telas, na comédia Corações Sem Piloto (1944), e nos filmes carnavalescos Pif-Paf (1945), Caídos do Céu (1946) e Esta É Fina (1947). 
Em 1948, assina com a Rádio Nacional, para atuar no programa de César de Alencar, então na sua irresistível ascensão como o maior apresentador do rádio brasileiro. 
Chega o ano de 1949 e com ele o concurso para eleição da Rainha do Rádio, com votos vendidos e renda destinada à construção do Hospital do Radialista. Marlene vence-o espetacularmente e, em definitivo, alcança uma imensa popularidade. Tinha obtido o apoio da Companhia Antártica Paulista, que lançava o guaraná Caçula e passa a fazer sua propaganda com base na imagem de Marlene. Esse concurso vem a ser a origem da eterna rivalidade entre seus fãs e os fãs de Emilinha Borba, tida e havida como a vencedora por antecedência. 
A partir de 1950, A Que Canta Diferente, A Incomparável, Aquela Que Não Perde A Majestade, só faz ampliar seus sucessos no disco, como estrela da Rádio Nacional e nas excursões. Casa-se, em 1952, com o ator Luiz Delfino, na Igrejinha do Outeiro da Glória, e a cerimônia é um acontecimento. Tinham se conhecido apenas três meses antes, durante a filmagem de Tudo Azul. 
Ao lado de Luiz Delfino, dedica-se também ao teatro, sua maior e declarada paixão. Sou uma artista de palco. Fora do palco sou tranqüila. Em cena, não vejo ninguém, não conheço ninguém. Quando estou em cena sai tudo que tenho de mim, coisas reprimidas ou não. 
Encabeça elencos com Luiz Delfino em algumas comédias. No rádio e na televisão o programa Marlene, Meu Bem, pela Nacional. No teatro, as peças Depois do Casamento, Angelina e o Dentista e Mayá. A crítica e o público a consagram como atriz. 
Marlene vai mais além. Vai a Paris, Santiago do Chile, Buenos Aires. Cantam em Cannes a convite do duque e da duquesa de Windsor. Na Argentina, em 1954, filma Adeus Problemas. O rol de seus espetáculos, no Brasil e no exterior, não cabe evidentemente neste encarte. Devem ser citados, mesmo de passagem, Carnavália, É a Maior, Botequim, Ópera do Malandro, Te Pego Pela Palavra, entre muitas outras, a maioria tendo gravações em Lps. 
Em todos os momentos e em quaisquer circunstâncias, Marlene expressa a força de uma interpretação que brota do mais profundo de sua alma de artista completa, fazendo com que cada vez mais se justifique o coro de É A Maior! 
 
O texto acima não representa a biografia completa do artista, mas sim, partes importantes de sua vida e carreira. 
 
 

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