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Biografias |
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Luiz Bonfa
O violinista e compositor Luiz Bonfá , carioca de 1922, era amigo do cronista e compositor pernambucano Antonio Maria (1921-1964) de passeios no Lido e noitadas no clube da Chave no posto 6, nos extremos da Copacabana florescente do início dos anos 50. Já morando nos EUA no final da década, Bonfá veio por acaso visitar a família quando o produtor Sacha Gordine o convocou a compor duas músicas para o filme ´Orfeu negro´, descendente da peça de Vinícius de Moraes, ´Orfeu da Conceição´. Bonfá não teria tempo de escrever algo novo, mas tinha duas instrumentais inéditas na gaveta. Gordine sugeriu como letrista outro cronista amigo do compositor, Rubem Braga. ´O Rubem delicadamente declinou do convite e então eu parti para o Maria´, conta Bonfá em depoimento especial para esse CD. Nasciam ´Samba do Orfeu´ e Manhã de carnaval - esta uma das obras-primas da música brasileira mais executadas no exterior. Ela fecha essa seleção que recapitula o papel de relevo de Bonfá entre os modernizadores da MPB. Foi extraída do ´pot-pourri´ de temas do filme, numa das últimas gravações do cantor Agostinho dos Santos (1932-1973), que emblematizou o sucesso, acompanhado por feras como Edison Machado, Guilherme Vergueiro e Ion Muniz.
A transição do samba-canção do pós-guerra para a bossa nova teve fundamental participação de Bonfá como se nota em De cigarro em cigarro (´grande sucesso com Nora Ney, antes gravado, sem repercussão por Johnny Alf.´, lembra o autor) e mais Perdido de amor e ´Sem esse céu´(ambas na voz de Dick Farney), Entre nós (pelo ´rival´ Lúcio Alves) e composições regionalistas com tratamento harmônico moderno, como samba-toada Canção do vaqueiro. No LPP-21, um dez polegadas gravado em 1955, João Donato, outro dos integrantes da turma modernista, tem sua primeira música gravada, Minha saudade. ´Conheci Donato tocando acordeom no Copacabana Palace. Ele tinha saído do namorados da Lua em 1953, nem tocava piano ainda, mas já era muito avançado em termos harmônicos´ descreve. O próprio Bonfá participou de um grupo vocal inovador, os Quitandinha Serenaders, da rara faixa Eu, você e o mar, de 1948.
A parceria com Tom Jobim (vide Engano, na voz de Doris Monteiro), que participa ao piano de várias faixas dessa seleção, segundo Bonfá surgiu naturalmente sem convite formal. ´Vivíamos juntos, estávamos sempre um na casa do outro, as coisas aconteciam espontaneamente´, rebobina entusiasmado como o duo que fizeram em A chuva caiu, sucesso popular na voz de Angela Maria. ´Usei um violão eletrificado numa concepção de arranjo ousada para a época, com várias mudanças de clima. O Tom fez um solo de jazz muito bom e segui o embalo´, elogia. Diplomático, o compositor se recusa a opinar quanto a citação quase literal de O barbinha branca na composição de João Gilberto ´Um abraço no Bonfá). O João é que pode falar sobre isso. Naquele tempo todo mundo mandava abraço pra todo mundo. Até eu fiz ´Um abraço no Getz´. Do mesmo disco, gravado com um Jobim ainda coadjuvante, há Chora chorão (com Donato no acordeom) e Dúvida. Seu estilo inimitável ao instrumento é ressaltado em Violão no samba. A propósito, ele dá outro depoimento exclusivo:
´Tudo começou num aprendizado com o grande Isaías Sávio aos 12 anos. Eu dedilhava alguma coisa ainda rudimentar, com a mão fora de posição. Naquela época, já queria ferir menos as cordas para tirar um som mais aveludado. A sorte é que o Sávio se recusava a receber, porque eu não teria como pagar a aula semanal. Morava em Santa Cruz, zona oeste do Rio, vinha de trem até a Central, ia até a Lapa e subia a pé para o alto da Cândido Mendes, onde morava o professor. Ele teve uma atenção especial com o meu esforço, mesmo sabendo que eu só estava estudando violão clássico para pegar a técnica. Gostava mesmo era de música popular. Passei pela Rádio tupi, integrei o Quitandinha Serenaders (o João Gilberto me substituiu) e criei o meu estilo fazendo o baixo simultâneo para dar o efeito de dois violões. Absorvi muita coisa da música americana, cheguei a uma sonoridade suave, sem malabarismo, enriquecendo mais os acordes. Quando todo mundo tocava só com a unha, eu já usava a falange. Às vezes juntava as duas coisas e saia outro som. Quando queira mais estridência, abria a mão. Minha execução é praticamente sem ruído, o sibilado (isso acontece com quem tem muito calo na mão que fica pesada). Não gosto de tocar com palheta, fica mecânico, só vale para quem quer velocidade´, ensina este mestre da sutileza e da invenção.
(Tárik de Souza)
* Biografia compilada do encarte da Enciclopédia Musical Brasileira distribuído pela Warner Music Brasil Ltda.
O texto acima não representa a biografia completa do artista, mas sim, partes importantes de sua vida e carreira.
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