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Dominguinhos
Volta e meia o Sudeste descobre a música nordestina. No fim dos anos 90, por exemplo, foi um tal de ver mocinhas e mocinhos da Zona Sul carioca exercitando a sensualidade (e uma certa consciência mesmo que tardia da raiz cultural brasileira) no salão ao som de baiões e xotes tocados tão-somente em sanfonas, zabumbas e triângulos. Muita gente se surpreendeu com tão comentada volta do forró de pé-de-serra, da dança agarradinha, dos vestidos de chita e cabelos trançados das meninas - e entre elas, certamente estava José Domingos de Moraes, mais conhecido como Dominguinhos. Afinal, a vida desse pernambucano de Garanhuns foi toda fundamentada na certeza de que o pilar fincado pelo padrinho eterno incentivador, Luiz Gonzaga, no solo sempre fértil da nossa música jamais haveria de ser arrancado. A moda vai e vem num contínuo. Em 1973, acompanhando Gal Costa, Dominguinhos descobriu que dava pé anunciar-se como o "sanfoneiro pop". Mas antes e depois disso, lá estava ele, fiel ao atemporal resfolego do fole, que nas festas da infância, animadas pelo pai Chicão, exaltava os ânimos a ponto de quase sempre uma briga de peixeira deixar como saldo um cabra de bucho furado.
Nem tinha completado sete anos de idade, Dominguinhos admirava a todos tocando sua sanfoninha de oito baixos como gente grande. Quando o trabalho escasseava para o pai, eram ele e os irmãos que tocavam na porta dos hotéis para garantir a feira. Aos oito anos, o menino teve a oportunidade de tocar em Garanhuns para Gonzagão, que, impressionado, deu-lhe 300 réis (o que garantiu à família de dez irmãos o suficiente para viver uns cinco meses) e o seu endereço no Rio de Janeiro. Só aos 14, Dominguinhos iria pegar o pau-de-arara, junto com Chicão e os irmãos, para ir procurá-lo. O velho Lua deu-lhe guarida e uma sanfona. Instalado em Nilópolis, na baixada Fluminense, o jovem sanfoneiro começou a se desdobrar em mil - tocava em boates, programas matutinos de rádio, churrascarias e forrós da baixada. Em 1957, acompanhou Luiz Gonzaga pela primeira vez na gravação de um disco, e não saiu mais de sua banda. Nove anos depois, estaria gravando o primeiro de vários LPs solos, "Fim de festa", para um selo de músicas sertaneja. O mercado regional garantia o seu ganha-pão nos anos seguintes até que em 1973, aos 32 anos de idade (e mais de vinte de carreira), o baiano Gilberto Gil (que o conhecera tocando com Gonzagão no Rio, no teatro Tereza Raquel) o transformaria num sucesso nacional com a gravação de "Eu só quero um xodó", uma das várias parcerias com a radialista Anastácia.
Foi só o começo para Dominguinhos, compositor de outros tantos sucessos que aparecem nesse disco nas suas interpretações de voz e da sanfona. Estão lá alguns como "Tenho sede" (outra com Anastácia imortalizada em gravação de Gil, aqui com a participação da dupla pop-sertaneja Zezé di Camargo & Luciano) e "De volta pro aconchego"(Feita com outro de seus freqüentes parceiros, Nando Cordel, e imortalizada por Elba Ramalho na trilha da novela "Roque Santeiro"). Apesar de Ter sido aconselhado pelo mestre (com quem toca em Ö juazeiro e a sombra" e a quem homenageia em Gonzaga, coração) a soltar a voz para se destacar dos outros sanfoneiros, o pernambucano nunca descuidou da perícia instrumental, que pode ser conferida nas gravações de "O bebê"(do gênio alagoano Hemeto Pascoal) e do imortal choro Delicado (de Waldir Azevedo). Mas não faltam ainda ao disco tradicionais arrasta-pés como "O pavio e o lampião"(em dueto com Genival Lacerda), "Firin fim fom do fole" e Numa sala de reboco. É uma festa das boas, na qual Dominguinhos nos dá provas mais do que suficientes para acreditarmos que o forró (um "must" entre os americanos depois que o talking head David Byme editou uma coletânea no começo dos 90) nunca deixará de Ter seu lugar no grande baile da música brasileira.
(Silvio Essinger)
* Biografia compilada do encarte da Enciclopédia Musical Brasileira distribuído pela Warner Music Brasil Ltda.
O texto acima não representa a biografia completa do artista, mas sim, partes importantes de sua vida e carreira.
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