Serrinha e Caboclinho
SERRINHA, ou Antenor Serra, nasceu em 26.6.1917, na cidade de Botucatu, que se localiza no centro do Estado de São Paulo. Era o segundo dos dois filhos de um italiano motorista de praça e de Isabel, irmã de Raul Torres, cantador e compositor, talvez a mais importante expressão até hoje da música caipira, com vasta discografia e incursões pela música sertaneja em geral, tendo começado como O Embaixador da Embolada em 1927.
Serrinha era cantador, violeiro e compositor, em todas essas áreas se destacando. Sua toada Chitãozinho e Xororó, em parceria com o letrista Athos Campos, é um clássico da música brasileira e não apenas da sertaneja.
Desde menino interessava-se pela viola, sempre a rodear Lopinho, violeiro de Botucatu, para aprender os mistérios do instrumento. Botucatu, aliás, tem sido berço de gente de destaque na arte cabocla: Tinoco (da dupla com Tonico), Carreirinho, Zé da Estrada (da dupla com Pedro Bento), Angelino de Oliveira (nascido em Itaporanga, SP, mas em Botucatu desde pequeno e onde compôs a célebre Tristezas do Jeca), Raul Torres e outros. É terra também da jornalista Rosa Nepomuceno, autora do livro Musica Caipira, Da Roça ao Rodeio, Editora 34, 1999, obra básica do assunto.
Com 15 anos, Serrinha já tocava em festas. Em 1935, com 18 anos, é admitido como conferente na Estrada de Ferro Sorocabana. Raul Torres, seu tio, nome já consagrado por muitos sucessos, numa das idas a Botucatu, constata-se que ele possuía qualidades suficientes para ser lançado e assim propõe que formem uma nova dupla. Para tanto era preciso que Serrinha se mudasse para a capital paulista.
Corria o ano de 1937. Foi providenciado a transferência de Serrinha para os escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana, pois não convinha deixar a segurança desse emprego pelo risco da vida de cantador. Desse modo, tal qual Raul Torres, também ferroviário da Sorocabana, sempre ele soube conciliar ambas as atividades, deixando a música para o período da noite e os finais de semana. Aposentar-se-ia em 1968 na estrada de ferro.
Em São Paulo, nesse mesmo ano de 1937, sairia o primeiro disco de Raul Torres e Serrinha (Cheguei na Casa da Véia/ De Terça Pra Quarta-Feira) através da gravadora Colúmbia, no total 4 discos com 8 músicas nessa marca. Ainda em 1937, transferem-se para a RCA-Victor e nela ficam até 1940, , com 33 discos e 50 músicas gravadas. Em 1941, na Odeon, conseguem a proeza de gravar 13 discos com 25 músicas em apenas uma semana de agosto desse ano! E foram páginas que enriqueceram a música sertaneja e brasileira: Cabocla Tereza, No Mourão da Porteira, Futebol da Bicharada, Adeus Campina da Serra, Que Moça Bonita!, Paraguaíta, Festança no Rancho Fundo, A Mulher e o Trem e muitas mais. No total, gravaram 60 discos com 83 músicas. Serrinha fazia a segunda voz. Registre-se, de passagem, que Mariano da Silva (pai do acordeonista Caçuçinha) e Serrinha, em 1938, fizeram a gravação original da valsa Saudades de Matão.
Raul Torres e Serrinha depois, infelizmente, se separariam por motivos não-artísticos para nunca mais manterem qualquer tipo de relacionamento.
Quando chegou a São Paulo, em 1937, Serrinha foi morar numa pensão, onde conheceu Luiz Marino Rebelo, bombeiro de apelido Mulatinho, com o qual costumava cantar sem compromisso. Mulatinho seria mais tarde funcionário da Secretaria da saúde. Na mesma rua morava uma linda jovem, Olinda Itália (1918), natural de Mauá, vindo a casar-se com ela em 1940. Sueli e Jony foram seus filhos. D. Olinda mora em Botucatu.
Tendo de prosseguir sua carreira, desfeita que estava a dupla com Raul Torres, Serrinha procurou Mulatinho e com ele formou novo duo. Sugeriu a mudança de Mulatinho para Caboclinho, mais de acordo com os gêneros sertanejos. Nessa fase de 1943 a 1957, é de se notar que poucas músicas não tiveram a autoria de Serrinha, com e sem parceiros, e muitas foram sucesso. Regravariam a toada Chitãozinho e Xororó na Continental (1951). Serrinha fazia a primeira voz. Entre os demais sucessos, O Fim do Zé Carreiro, Os Três Beijos do Calvário, Codorninha Mineira, Bom Jesus de Pirapora, Vai Canoa Vai, Velha Palhoça e outros.
Depois do falecimento de Caboclinho, Serrinha recomporia a dupla com Zé do Rancho (João Izidoro Pereira), sempre com Riellinho junto. Em 1968 Serrinha tem de deixar a vida artística por causa de problemas cardíacos. Mesmo assim vem a gravar um Lp independente em 1970. Faleceu com apenas 61 anos, em 19.8.1978, na sua Botucatu, que sempre enalteceu e amou.
O texto acima não representa a biografia completa do artista, mas sim, partes importantes de sua vida e carreira.
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